Sustentabilidade

Bom para o bolso, melhor ainda para o planeta

O produtor musical Marcelo Rubira aprendeu com o pai, hoje aposentado, a como aproveitar a chuva para diversas necessidades da vida em um sítio na zona rural pelotense

Jô Folha -

Em tempos de crise real, inventada ou aumentada, e de efeito estufa galopante, iniciativas caseiras que reduzam o consumo de energia elétrica e água são benéficas tanto para o planeta quanto para o bolso.
O produtor musical Marcelo Rubira aprendeu com o pai, hoje aposentado, a como aproveitar a chuva para diversas necessidades da vida em um sítio na zona rural pelotense. "Tínhamos problema com o abastecimento de água, então precisamos cavar cinco poços artesianos", conta. Além disso, a chuva era sempre aproveitada, através de calhas, para irrigar plantação e dar banho nos animais, por exemplo.

Atualmente no meio urbano, ele busca utilizar os mesmos métodos para diminuir o consumo. A água utilizada na máquina de lavar roupas - equipamento que mais gasta, diz - é colocada em um tanque e na sequência reaproveitada para lavar o pátio, o estúdio em que trabalha e uma pequena horta em que planta mamão, por exemplo. "Tem chovido bastante, olha quanto vai fora, potável. Por que não usar? A chuva tem muita durabilidade", comenta. Por conta de tais hábitos, o produtor musical viu sua conta de água diminuir drasticamente após a mudança para cobrança por consumo e não mais por área construída.

O próximo passo de Rubira, que, artesão, recicla cada lata de cerveja jogada fora em churrascos, é instalar placas de energia solar. Os benefícios, novamente, são econômicos e ambientais: limpa e renovável - ao contrário de óleo, carvão, gás -, ela é também praticamente gratuita após a quitação do investimento para instalação.

Diretor da Inove - Energias Sustentáveis, empresa especializada em produzir soluções econômicas e sustentáveis a partir de recursos renováveis, Alex Chagas destaca que a tarifa da energia é mais cara na zona urbana do que no campo. Para tal, incentiva pessoas a fazerem o mesmo que Rubira e instalarem placas solares em suas casas. "Nos perguntam se vale a pena e respondemos que sim, principalmente nas residências. Se cada um de nós conseguir fazer a nossa parte em gerar nossa própria energia limpa, estaremos oferecemos um grande benefício ao planeta", comenta.

Ele rechaça o mito de que sistema de coletores solares não funcionam no inverno. "São extremamente eficientes em qualquer estação."

Com tantas iniciativas caseiras, Rubira tem contribuído para um planeta saudável, mas não pode ser o único. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de serem necessários 110 litros diários para cada pessoa suprir todas as suas necessidades, estão sendo usados 220 litros. Todavia, não apenas na zona urbana está o problema - muito pelo contrário. Vale a citação da música Reis do agronegócio, de Chico César, para ilustrar outro dado do órgão que informa que apenas 10% da água consumida diariamente é de responsabilidade doméstica. Vinte por cento provêm da indústria e incríveis 70% são utilizados pela agricultura: "Infecta solo, rio, ar, lençol freático/ Consome, mais do que qualquer outro negócio/ Um quatrilhão de litros d'água, o que é dramático/ Por tanto mal, do qual vocês não se redimem/Por tal excesso que só leva à escassez/ Por essa seca, essa crise, esse crime/Não há maiores responsáveis que vocês".

Aos que decidirem por permanecer utilizando a energia elétrica, e tudo bem com isso, a ideia para que o consumo pese menos no próprio bolso e no do planeta é utilizar métodos que melhorem o desempenho da rede elétrica, evitando a fuga de energia - que no final do mês custa caro e significa severo desperdício da mesma. Os conectores criados pelo empresário pelotense João Carlos Sehn, diretor da Dresehn do Brasil, são um exemplo destes métodos.

Seco
"Do ponto de vista do planeta não existe fora", diz um cartaz visível a qualquer um que entre na Ocupação Coletiva de Arteiras (os) (OCA), localizada em uma casa antiga em frente à Praça da Alfândega. Por lá, além de contracultura, se produz reciclagem de praticamente tudo aquilo que anteriormente tenha sido utilizado.

Em 24 de março outra iniciativa, durante um evento de variedades artísticas, o local recebeu uma grande quantidade de pessoas, e todas precisariam em algum momento ir ao banheiro. Ao que se tentou pensar de forma mais sustentável. "Para dejeto jogado no São Gonçalo é muita água potável", argumenta um dos membros. Consolidou-se assim a criação de um banheiro seco. Funciona assim: ao invés de líquido, no fundo do vaso sanitário há um tonel onde as fezes são depositadas e vão se acumulando até que, junto com a serragem também presente, sejam recicladas em um processo chamado de compostagem, que as transformam em adubo. Quando o recipiente lota é então trocado e a mistura é colocada em um terreno.

Entre as vantagens estão a eliminação do gás metano nos lixos e a redução do lixo orgânico, dos esgotos e do uso de produtos químicos venenosos. "É algo que parece menos prático, mas é mais consciente, não oculta as nossas ações. A população acha que pode colocar tudo em um saco preto e esperar que magicamente tudo desapareça", comenta outro membro do coletivo.

IPTU Verde
Recentemente surgiu, na Câmara dos Vereadores do Rio Grande, através da vereadora Luciane Compiani (PMDB), um projeto de lei baseado na ideia de que casas com iniciativas sustentáveis tivessem desconto no IPTU. Seu objetivo era o fomento de medidas que preservassem e protegessem o ambiente. O projeto foi considerado inconstitucional, entretanto, por causar prejuízo considerável nos cofres do Executivo.

Outras cidades brasileiras já adotam a medida: em Salvador ela é executada através de uma tabela de pontos com descontos de até 49%. Em São Paulo, casas com medidas biossustentáveis chegam a pagar 12% a menos de IPTU.

Algumas iniciativas caseiras boas para o planeta e para o bolso
- Reciclagem de água
Como fazer: é possível através do acúmulo da chamada "água cinza" - aquela utilizada, por exemplo, na máquina de lavar roupas, nas pias. Faça um sistema de canalização que leve o líquido até uma caixa com pedras e areia. Ela pode ser usada para lavar calçadas, regar plantas. A economia no final do mês pode chegar a 5 mil litros.

- Coleta de água da chuva

Como fazer: instale calhas desde o teto até o solo. Ao fim dela, coloque um recipiente lavado com água e sabão. Quanto maior este for, mais água você irá coletar.

- Banheiro seco

Como fazer: o ideal é a construção de dois vasos sanitários, cada um correspondente a uma câmara, e enquanto um é utilizado, o outro permanece fechado. Juntamente deve se construir uma espécie de chaminé, para que os gases - odores - saiam. A cada uso, a pessoa joga uma quantidade de serragem para acelerar o processo de compostagem, em que as fezes viram adubo quando utilizada temperatura entre 40°C e 60°C. Segundo o estudo Compostagem termofílica, do químico Holmqvist, nestas condições, após cinco dias se alcança satisfação higiênica do material fecal. É recomendado que a construção tenha uma rampa para que o resíduo resvale e chegue até uma portinhola por onde é retirado já compostado. Após, o material pode ser colocado em hortas e jardins.

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